ALÔ, ALÔ, SAUDADE! / Coluna de Paulo Moraes

 GOLEIROS QUE FICARAM NA HISTÓRIA


Descanso nesses últimos dias de dezembro no meu doce lar em Casa Caiada, Olinda. Lembrei-me de goleiros antigos, que não vi jogar. E queria falar deles. Os conheci pela fama e sucesso. Vi por livros e jornais.


   Começo pelo Senhor Moacir, o Barbosa da Copa de 50. Ele é destaque na nossa história futebolística, muito mais pela derrota do Brasil para o Uruguai, por dois a um, em julho daquele ano, no recém-inaugurado estádio do Maracanã. Barbosa foi taxado como responsável pela tragédia diante de 200 mil torcedores presentes e por quase todos os brasileiros que, ouvidos colados aos rádios pelo País afora, acompanharam o gol de Ghiggia que deu a vitória à Celeste. Ali, Barbosa e sua brilhante trajetória com a camisa cinza número um do Vasco, foram esquecidos no baú de triste lembrança. Dizem as escritas ter sido ele um dos maiores daqui, da posição, nesse pedaço de terra. Foi, até o massacre de 50. Morreu pobre e quase abandonado num recanto da cidade praieira de Guarujá, Estado de São Paulo. 

Barbosa: massacrado pela opinião pública

O paulista, nascido na conhecida Campinas, do Guarani e da Ponte Preta, passou por outro vexame, no Recife, em 1956. Foi dito que errou nos gols do América sobre o Santa Cruz em jogo do Campeonato Pernambucano. O alviverde recifense, muito respeitado na época, venceu por 6 a 3. A torcida culpou Barbosa pela derrota. Não se sabe se ele foi responsável pela goleada. O certo é que saiu do clube alguns dias depois. Barbosa voltou para o Rio, onde seria campeão carioca pelo seu Vasco de glórias, em 1958. Barbosa ficou tão marcado que nos preparativos da Seleção Brasileira, em 1993, para a Copa de 94, foi impedido de se encontrar com os jogadores pra não dar azar. São memórias de um grande goleiro, execrado na sua história por uma bola que caiu na rede e nas lágrimas de tanta gente, numa tarde de domingo daquele esquecível dia do ano de 1950. A pergunta que perdura até hoje é se ele foi mesmo o culpado pelo gol do campeão Uruguai.

   Quem sofreu também dissabores foi o caruaruense Manoelzinho, ídolo da torcida do Sport nos mesmos anos de 50. O Náutico perdia para o rival por um a zero. E virou para cinco a um. E com um detalhe: como o goleiro Vicente, do Náutico, havia se machucado, tendo ficado impossibilitado de continuar em campo, para o lugar dele foi o zagueiro Lula (não havia substituições na época). Mais um dado importante. Lula, naquele dia de novembro de 1951, estava jogando de lateral - esquerdo. Não levou nenhum gol. Manoelzinho foi dispensado pelo Sport e contratado pelo Náutico para ser campeão em 52 e 54. E virar ídolo da nova torcida. Foi titular da Seleção Pernambucana por vários anos. E só não foi do Botafogo nos anos 40 porque não quis se separar do Recife, e quando podia, dos amigos da sua Rua Amarela, em Caruaru. Depois de largar a carreira, Manoelzinho, de apenas 1,64 m de altura, mas alto na agilidade, se tornou assistente técnico do clube que o adotou. Gostaria de ter visto os dois, Barbosa e Manoelzinho, em campo e ter acompanhado também, no campo de jogo, Leça do América, Manga e Osvaldo Baliza do Sport. Eles de histórias diferentes.

Manoelzinho na célebre excursão do Sport ao Centro-Sul

Apesar de acusado de ter facilitado a vitória do Bangu, em 1966, na final do Campeonato Carioca, Manga ficou cravado como um dos maiores da posição do nosso futebol. Manga era do Botafogo, onde tanto brilhou. O pernambucano Manga foi campeão juvenil (o hoje juniores) pelo Sport em 1956. E o titular do time profissional rubro-negro em 1957. Foi destaque ainda no Uruguai, no Equador, no Inter gaúcho, no Coritiba e na Seleção Brasileira.


O consagrado Manga

   Já Osvaldo Baliza, que veio do Rio, foi uma das estrelas do Sport campeão de 1955. Dizem que, não sei se é verdade, num amistoso do seu clube com o Central, em Caruaru, dispensou a barreira na cobrança de uma falta pelo centroavante Pernambuco, um atacante famoso no Interior e de chute forte, pra pegar a bola com uma mão só.

Osvaldo, campeão no cinquentenário do Sport

Quanto a Leça, como contam os historiadores, era muito bom. Tanto era, que sempre é lembrado pelos mais antigos torcedores do Bahia, onde jogou e foi ídolo. Foi ídolo também no América. Foi o goleiro do campeão pernambucano de 1944, a última grande glória do nosso alviverde.

Leça, agachado, o goleiro campeão pernambucano pelo América em 1944


  Não posso esquecer Aníbal, o goleiro do time do Santa supercampeão de 1957. Não o vi jogar. Na final do campeonato, relatam os jornais de março de 1958, quando foi disputada a final com o Sport, pegou uma bola difícil no ângulo, arremessada, de calcanhar, pelo meia Carlos Alberto. O Tricolor vencia por 3 a 2 e o empate ainda lhe favorecia. Mas, quem sabe, quem sabe, se o Sport não viraria o jogo? O Leão da Ilha, que fizera seus dois gols quando perdia por 3 a 0, aguerrido como era, poderia passar à frente no marcador e conquistar o título.

Aníbal, o goleiro supercampeão de 1957 pelo Santa Cruz


Aníbal, que veio do Flamengo, fez história no Santa e recebeu passe livre, como prêmio pela saudosa conquista. Aníbal, então, se foi para o Palmeiras, para ser titular no gol do Verdão. E ser campeão paulista.
   Fico por aqui, amigos, amigas. Na próxima coluna falo dos goleiros que vi jogar. Até lá. Espero contar com a sua leitura em 2022. E que seja um ano arretado de bom! 

·          Fonte: Blog do Lenivaldo Aragão 


Enviar um comentário

0 Comentários