HISTÓRIAS DO LENDÁRIO PALMEIRA (2): Um olho no padre e outro na missa



Por Lenivaldo Aragão

Foto: Palmeira com o Sport rumo aos Estados Unidos em 1962. Em pé, Zé Ramos (massagista), Valter, Laxixa, Tomires, Fioti, Bentancor, Adelmo, Baixa, Palmeira (técnico), Nenzinho, Djalma e Adonias de Moura (jornalista); agachados – Alemão, Garrinchinha, Leduar, Alberto Galvão de Moura (dirigente), Antonio Palmeira (dirigente), Abílio, Dirceu, Juths e Fescina. (Arquivo do Blog de Lenivaldo Aragão)

Sempre procurando a “proteção” do conhecido pai de santo Zé da Bola, que atuava entre os bairros de Areias e Barro, Palmeira tinha suas superstições. Uma delas era não permitir que alguém sentasse ao seu lado depois de o jogo ter sido iniciado para não quebrar a corrente. E quem começasse a partida junto dele, teria que ir até o fim.
José Mariano Carneiro Pessoa era, por outro lado, extremamente desconfiado. Temia o mondé, como era chamado em Pernambuco o suborno.
Por outro lado, sua convivência com os jogadores era no clima de entre tapas e beijos. Nem sempre era ameno ao fazer uma advertência e era comum surgir uma discussão. Além do “velho Pal”, era tratado também como O Cacique, justamente por agir como um verdadeiro chefe.
Como acontecia noutros centros futebolísticos, em Pernambuco eram comuns os boatos de que determinado jogador tinha sido comprado pelo adversário, principalmente em semanas de decisões. Um pouco antes do supercampeonato de 1957, decidido em março de 1958 (Náutico 1 x 1 Sport, Santa Cruz 3 x 1 Náutico e Santa Cruz 3 x 2 Sport), veio o Carnaval. O centromédio Aldemar, carioca, mais tarde do Palmeiras e da Seleção Brasileira, e o ponta-direita paranaense Lanzoninho, dois craques do Santa Cruz, se esbaldaram no frevo, participando dos valorizados e agitados bailes realizados no salão de festas do Náutico, um dos adversários da Cobra Coral no supercampeonato. O carnaval dos clubes era bastante concorrido, e o do Timbu atraía não apenas alvirrubros, mas simpatizantes de outras agremiações. Viviam-se outros tempos, bem diferentes da época atual, onde adversário é visto como inimigo.
Logo correu o zunzunzum de que Aldemar e Lanzoninho iriam abrir para os alvirrubros quando chegasse a vez de enfrentá-los. Uma afirmação que parecia inconsistente, posto que se estivessem comprometidos com o rival, certamente evitariam se expor. Porém, por via das dúvidas, o médico e gerente de banco, mais tarde deputado estadual Odívio Duarte, presidente do Santa Cruz, chamou Lanzoninho para uma conversa e prometeu lhe da passe livre, se o Tricolor levantasse o Super, o que terminou acontecendo. Vale salientar que o Santinha derrotou o Náutico por 3 x 1, com três gols de Lanzona.
No que se refere a Palmeira, os boatos, que na internet se conhecem como fak news, causavam uma grande inquietação. Como se usasse o ditado “formiga sabe a roça que come”, ele estava sempre atento ao movimento ao seu redor. Até cartas anônimas chegavam às vezes à concentração, advertindo-lhe sobre um jogador, cujo nome não era citado, que já tinha acertado as contas com o outro lado. Sem saber para qual lado atirar, Palmeira passava a ser dominado pela desconfiança a pelo nervosismo. Asmático, não se separava da bombinha com a qual remediava suas crises. Havia quem, como o irreverente atacante Djalma, do Sport, maldosamente a escondesse, deixando o tdonor desesperado quando precisava usá-la. Todavia, essa brincadeira de mau gosto logo tinha fim porque outros atletas interferiam, levando o comandante a se acalmar.

NECO PARAFUSO 

Houve um tempo em que Palmeira contava com uma espécie de secretário particular, o ex-árbitro Neco Parafuso, seu amigo. Entre outros serviços prestados, no Sport, por exemplo, Neco ficava de plantão na concentração, uma casa alugada no fim da Avenida Caxangá, à margem direita do Rio Capibaribe. Qualquer problema que surgisse, o antigo juiz estava ali para quebrar o galho.
A imprensa tinha entrada franca para entrevistar os jogadores. Em alguns momentos, Neco Parafuso, pelo sim ou pelo não, estava sempre por perto, de ouvido bem aberto. Palmeira temia que algum falso cronista esportivo fosse usado para fazer proposta a algum atleta.
Nas conversas entre os jogadores, estes se referiam ao técnico chamando-o de o velho “Pal”, evidenciando a eufonia que o monossílabo carrega, uma vez que se usava o termo “pau” para definir a pessoa chata ou pouco tolerante. Era tratado também como o “ Cacique”, justamente por agir como um verdadeiro chefe.

O FRAUDE QUE RONDOU O LEÃO

Às vezes, em fases de decisão, Palmeira costumava levar o plantel para fazer a preparação final numa cidade do Interior, como Garanhuns. A finalidade era afastar os jogadores do burburinho e proporcionar-lhes mais tranquilidade.
O cismado Palmeira tinha lá suas razões. Em 1962, por exemplo, o Sport lutava para ser bicampeão e enfrentaria o Náutico na melhor de três decisiva. Os leões foram levados para uma fazenda perto de Limoeiro. Por coincidência, um frade começou a aparecer no caminho dos jogadores, que gozavam de uma certa liberdade para circular em torno da propriedade.
Figura respeitada e até reverenciada pelos profissionais leoninos, o tal religioso, na verdade era um farsante, que chegou a fazer propostas indecorosas ao zagueiro Alemão e ao centroavante Osvaldo. O fato foi denunciado à direção do clube por Alemão, e dias depois, quando o time ia entrar em campo para decidir o título, o assunto foi levantado por Palmeira em pleno vestiário, em tom ameaçador. Na realidade, o treinador temia que algum jogador tivesse sido contaminado pelo tal frade.

SPO DELEGAÇÃO EUA 

Delegação rubro-negra no embarque para a viagem aos Estados Unidos em 1962 – em pé, Zé Ramos (massagista), Valter, Laxixa, Tomires, Fioti, Bentancor, Adelmo, Baixa, Palmeira (técnico), Nenzinho, Djalma e Adonias de Moura (jornalista); agachados – Alemão, Garrinchinha, Leduar, Alberto Galvão de Moura (dirigente), Antonio Palmeira (dirigente), Abílio, Dirceu, Juths e Fescina).



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