Outros goleiros que souberam dar seu recado
Estou de volta para relatar sobre os goleiros inesquecíveis que vi jogar. Começo com o baiano de Jequié, Detinho (na foto com seu companheiro no Santa Cruz, Gilberto). Com 1,72 m de altura, portanto, baixinho para a posição, era ágil debaixo dos três paus. Jogou no Santa Cruz em 1970, 71 e 72. Lembro de uma defesa dele, na Ilha do Retiro, numa cabeçada do atacante Vanderlei, do Sport. A bola foi no ângulo esquerdo dele. Como um gato, pulou e foi evitar o gol rubro-negro. Um detalhe: nada de espalmar a escanteio. Desceu com a bola colada ao peito. Era um gigante e elástico. Morreu no Recife, com apenas 55 anos de idade, em 2001. Foi grande, o pequeno Diodete Coelho.
No Santa Cruz, eu admirei também o paulista Gilberto, 1,78 de altura. Nos anos 70. Frio, de ótima colocação, veio do São Paulo. Jogou também no Sport, em 1977. Botou no peito a faixa de campeão naquele ano. Gilberto Moraes quando voltou ao seu Estado, foi funcionário do São Paulo. Gente boa e autor de importantes defesas por onde passou e pelo Tricolor do Arruda, esse Gilberto. Ele deixou saudade por aqui.
E Birigui? É nome de uma cidade de São Paulo. Foi lá que um Marco Antônio nasceu. E que ganhou depois o nome de sua cidade. É um pássaro, um avião? Não. É Birigui. Ele é o goleiro do Fantástico. Pois é, Birigui está na história do Santa Cruz. Foi um goleiro fantástico de defesas monumentais. Brilhou no Santa nos anos 80 ao brigar muito, no bom sentido, com o caruaruense Luiz Neto. Um se machucava, o outro assumia e não largava o lugar até que uma contusão o obrigava a sair. Para ceder a camisa um ao leal amigo e concorrente. Na final de 1983 com o Náutico, Luiz foi o titular. Birigui ficou no banco. Em 86 e 87 foi a vez de Birigui fechar o gol, nas conquistas daqueles anos, de um Bi. Lembro- me de uma defesa milagrosa dele, num chute do ponta- esquerda Éder, do Sport, em 1987, na barra da sede, do Estádio da Ilha do Retiro. Foi numa noite em que o goleiro tricolor foi chamado de São Birigui, pela torcida coral. Birigui foi destaque também, em defesa do Guarani. Jogou em Portugal e no Sport. No time rubro-negro foi discreto, nem lá, nem cá. Birigui nasceu para ser uma barreira com a camisa das três cores de Pernambuco.
Luiz Neto também foi sensacional. Na final de 83 foi personagem na cobrança de pênaltis na decisão. Na bola chutada pelo ponta-direita Porto, fez a defesa em cima da linha. Até hoje se discute se a bola passou ou não da linha. Luiz Neto ainda garante que ela ficou legalmente nas suas mãos. Logo depois, o zagueiro Gomes converteu a sua cobrança e o Santa foi campeão.
Luiz Neto e Birigui ficaram cravados na minha história de tricolor. E na lembrança de tantos e tantos apaixonados pelas três cores.
Luiz dos Santos Costa. Nome de nosso personagem de agora, nascido em Alagoas. No futebol ganhou outro registro: Lula Monstrinho. Um jornalista de seu Estado assim o chamou. E com esse nome, ele veio parar no Recife em 1962. Para defender o Náutico e ser hexacampeão pernambucano. Era um goleiro extraordinário. Estreou em Caruaru num amistoso com o Central, quando substituiu Valdemar durante o jogo. Empate por 2 a 2. Lula levou os dois gols, para muitos, presentes naquele domingo no Estádio Pedro Victor (o hoje Lacerdão), em bolas defensáveis. Lula veio para ser reserva de Valdemar, um pequeno goleiro, mas grande nos olhares dos alvirrubros. O paulista Valdemar era muito bom mesmo, só que caiu em desgraça ao ser acusado de levar o lateral-direito Gena, em seu carro, ao Aeroporto dos Guararapes. O companheiro de Náutico iria defender o Botafogo. Foi devolvido dias depois, porque tinha passe preso ao clube pernambucano. Gena seria ídolo no Náutico e Valdemar inocentado da acusação, mas sem tempo para manter seu prestígio. Com a saída de Valdemar foi aberta a vaga para Lula. E Monstrinho se consagrou ao fazer elogiáveis partidas. Foi mesmo um monstro nas pegadas de bola e titular até meados de 1968 quando se transferiu para o Corinthians. Em São Paulo foi titular do alvinegro e convocado para a Seleção que seria tricampeã mundial em 70, no México. Lula não foi para a Copa por causa de uma catapora que lhe roubou um lugar na Seleção. Lula costumava dizer que seria titular no México. Prova disso é que seu reserva no Corinthians, Ado, foi um dos três goleiros da Seleção do Tri.
Lula era muito bom. Nos preparativos para a Copa jogou um tempo no amistoso contra Pernambuco, na Ilha, em 1969. O Brasil ganhou por 6 a 1. Com problemas de saúde do seu filho Luiz Nélson, Lula voltou ao Recife. Mas para jogar no Sport. Ainda defendeu o Náutico, não dando certo dessa vez. E lá, em 1972, encerrou a vitoriosa carreira. Não esqueço o que fez no Pacaembu em 1967. Pegou demais no primeiro tempo da partida com o Palmeiras. Machucado, deu lugar a Válter Serafim, que o imitou na vitória por 2 a 1. Pegou tudo, também. Não lembro quem levou o gol do Palmeiras. Sei que Lula foi exuberante. Não se recuperou e Válter foi o titular no Maracanã, acho que uns três dias depois, no jogo final da Taça Brasil. O Palmeiras venceu por 2 a 0, o Náutico comemorou o vice no bar Amarelinho, na Cinelândia. E eu estava lá naquele 30 de dezembro de 1967. Lula foi inigualável.
Do Sport está nas páginas da minha memória, o irrequieto carioca País. Gostava de uma confusão. No Arruda, certa ocasião, saiu de sua barra para provocar e brigar com o atacante Django, do Santa Cruz. Era temperamental, mas um ótimo goleiro nos anos 79, 80, 81, 82 e 83.
No Central dos meus arquivos sentimentais vem na cabeça Dudinha. Era grandioso nos times de 1961 a 1966, ano em que se mudou para o Sport. E corajoso. Num jogo com o Sport, ele machucou o olho direito. Foi levado ao Hospital São Sebastião, a poucos metros do Pedro Victor, na Avenida Agamenon Magalhães. Botou um tampão no olho e, como não havia substituições na época, o centroavante Valdemir foi para o gol. Dudinha voltou do hospital minutos depois e retomou à posição. O Sport venceu por 3 a 1. Não lembro quem levou os gols, se Dudinha ou Valdemir, ou se os dois. Não recordo, tão pouco, se as bolas foram pra rede antes ou depois de Dudinha.
Histórias bem vividas. Primeiro, como apaixonado por futebol e depois, já jornalista ou radialista, como queiram. Obrigado pela paciência em ler essas letras de saudade. Até a próxima, amigos e amigas. Bom dia, boa tarde, boa noite, como costuma dizer o padre Arlindo, da praia de Tamandaré. Oxe, oxe, oxe...!
Fonte: Blog do Lenivaldo Aragão
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