Galeria da Fama: Gil de Ferran (1997)

 AUTOMOBILISMO 


Por Max David

A equipe Walker possuía melhor estrutura em relação à Hall, mas mesmo assim, não se encontrava no mesmo patamar de Ganassi, Penske e Newman Haas. Apesar disso, Gil sentia-se pronto para ser campeão, mesmo reconhecendo que tinha de evoluir nos ovais. "Gostaria muito de vencer num oval, mas tenho de aprender uns truques de acerto do carro."

Na abertura da temporada de 1997, no Homestead Miami Speedway, isso ficou bem evidente. Dois acidentes, um no treino classificatório, que o impediu de ser pole position, e o outro na corrida, quando se chocou com o retardatário Dennis Vitolo e abandonou a prova quando era líder. O excesso de arrojo estava comprometendo seu desempenho.

Em Surfer's Paradise, na Austrália, sua atitude imprudente dessa vez causou um grave acidente. Na segunda volta, deu uma batida por trás em Christian Fittipaldi que se chocou a 280 km/h contra o muro. Ele fraturou a tíbia direita em três pedaços, o perônio e quebrou também um osso na parte inferior do dedão do pé esquerdo. Christian ficou afastando das pistas por quase a totalidade daquele ano. Enquanto isso, Gil chegou em quinto, após recuperar dezoito posições perdidas graças a um pit stop não-programado. O acidente da Austrália deixou marcas em Ferran. Aquele piloto, que arriscava tudo nas primeiras voltas, era substituído por um Gil mais paciente.

Essa nova atitude parecia ter dado certo em Long Beach, pois largou na pole position. Sua melhor volta foi obtida na primeira sessão de treinos classificatórios, pois não chegou a ir à pista para o treino oficial por se envolveu em um sério acidente com Gualter Salles, que felizmente não deixou vítimas. O carro de Salles apresentou um problema no acelerador e ficou parado na pista em um local perigoso. Ferran, que vinha em uma volta rápida, acertou a traseira do carro de Salles, pois direção da prova estupidamente não interrompeu o treino. Na corrida, que tinha tudo para ser inesquecível, terminou em acidente, o sétimo consecutivo. Gil perdeu a liderança para Alessandro Zanardi nos pits e estava em quarto, pressionando Maurício Gugelmin, quando errou o ponto de freada na curva 1 e bateu no muro. Ferran prometeu a si mesmo que nunca mais iria cometer outro erro parecido.

Nazareth marcou essa virada em sua carreira. Gil interrompeu a fase de acidentes e mesmo não sendo ainda um especialista em ovais curtos, fez uma grande corrida, chegando em quarto lugar. Na sua frente somente as feras Paul Tracy, Michael Andretti e Al Unser Junior. Uma pane de combustível na antepenúltima volta o tirou da briga pela vitória no Rio de Janeiro. O primeiro pódio veio em Gateway, consequência da estratégia de pits da Walker. Ferran parou quatro vezes, mesmo número do vencedor Tracy. Até a última volta, Gil estava atrás de Zanardi. Então ele fez a ultrapassagem na entrada da reta, faltando poucos metros para bandeirada. Mais um bom resultado em Milwaukee ao chegar em sétimo.

Pela segunda vez no ano, Gil largou pole position, agora em Detroit. Depois de liderar 27 voltas, e ser prejudicado pelas bandeiras amarelas, acabou em terceiro ao ultrapassar Roberto Moreno a 200 metros do fim. Por 50 metros, ou 27 milésimos de segundo, deixou de vencer em Portland, ao ser superado por Mark Blundell quase na linha de chegada, numa das mais espetaculares corridas da história da Indy. Ferran ficou desapontado por perder a segunda prova seguida nas voltas finais, enquanto Zanardi se vingou da derrota do ano anterior, no GP de Cleveland, ao ultrapassar Gil a seis voltas do fim, quando o brasileiro poupava combustível. Mesmo assim ele tinha bons motivos para comemorar: o brasileiro assumia o terceiro lugar no campeonato.

Na etapa de Toronto ele abandona na 40ª volta com problemas nos freios, vendo as chances de título se distanciando aos poucos. Gil termina em terceiro as 500 Milhas de Michigan, ao ultrapassar Tracy, até então líder do campeonato, nas últimas voltas. Com muito esforço e dedicação, Ferran mostrou que agora era um forte adversário também nos ovais. Um erro ao sair dos pits, deixando o carro rodar e o motor apagar, numa tentativa de evitar bater em Greg Moore quando era o quarto, fizeram Gil cair para a vigésima posição na corrida de Mid-Ohio. Ele conseguiu se recuperar para chegar em sexto. Enquanto isso, Alessandro Zanardi, vencendo em Mid-Ohio, estava cada vez mais próximo de ser o campeão. O italiano venceria novamente em Elkhart Lake, sua quinta vitória na temporada.

Caso Alessandro Zanardi ganhasse em Vancouver com pole e liderando o maior número de voltas, seria campeão com antecedência de duas provas. Depois da corrida, Ferran, que completou o pódio em terceiro, terminando à frente de Zanardi, e reassumindo a vice-liderança no campeonato, culpou os pneus Goodyear pela falta de vitórias naquela temporada, mesmo com os incessantes esforços dele e da Walker. Além disso, o brasileiro sofria com o pedal do freio que teve o curso alongado e tocava o chão e com dores no pescoço, resultado de forte pancada no muro nos treinos. As chances de título só se manteriam com maus resultados do italiano nas corridas finais.

Em Laguna Seca, Gil fez uma atuação discreta, em razão de sérios problemas com o carro e os pneus, e chegou em quinto, garantindo o vice-campeonato. Enquanto isso, Zanardi termina corrida em terceiro lugar e se torna campeão. A primeira vitória pela Walker parecia certa nas 500 Milhas de Fontana. Porém, o motor Honda do carro perde potência a partir da 220ª volta e ele caiu do segundo lugar para acabar em sexto lugar.

Mesmo não vencendo corridas, Ferran não teve motivos para reclamar. Apesar de não dispor de um equipamento capaz de brigar em igualdade com a Ganassi, ele se aproveitou dos erros dos outros pilotos para obter dois segundos e cinco terceiros lugares e duas poles. Ficava a esperança de que o melhor entrosamento com a Walker aliado a muito trabalho para desenvolver o equipamento, como ocorreu na época da Hall, o levasse uma condição real de disputar o campeonato em 1998.


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